sábado, 20 de março de 2010

Andorinhas

“Hoje vimos umas andorinhas nos céus do Cais do Sodré, eram poucas mas gritavam como loucas. Cheirámos o pólen doce das flores que ainda não nasceram, ficámos tontos de tanto licor. Espiámos namorados aos beijos em jardins alcatifados. Comemos morangos ilegais comprados às escondidas, e laranjas com mel vindas da China. Hoje alguém misturou cor de rosa com o azul do céu, e imaginem, ficou bem! Hoje choveu mas o ar estava quente e apeteceu dançar, mesmo sem par. Hoje dissemos adeus ao longo Inverno. A Primavera está aí toda, em calda, já não há volta a dar. As andorinhas estão a chegar….”

- Lisboa Selected Magazine (Revista on-line)–

Andorinhas um dia explico a minha admiração e respeito por elas…..

sexta-feira, 19 de março de 2010

#03 Notas e Timbres_Nina Simone_Feeling Good




http://pt.wikipedia.org/wiki/Nina_Simone

OS MEUS OLHOS SUBIAM PARA O PALCO

Naquele tempo, costumava levar gelo à Nina Simone. Era sempre simpática comigo. Tratava-me sempre por «Queriiido». Levava-lhe uma bandeja cinzenta cheia de gelo, para ela pôr no Whisky.

Ela descascava a cabeleira loura e atirava-a para o chão. Por debaixo da cabeleira, o seu cabelo verdadeiro era miudinho, como o pêlo de um cordeiro negro tosquiado. Descascava as pestanas postiças e colava-as ao espelho. As pálpebras eram salientes. Pintava-as de azul. Faziam-me sempre pensar numa dessas rainhas egípcias, como as que eu tinha visto na National Geographic. A sua pele brilhava de molhada. Enrolava uma toalha azul à volta do pescoço e depois inclinava-se para a frente, descansando os cotovelos sobre os joelhos. O suor rolava-lhe pela cara abaixo, salpicando o chão vermelho de cimento, entre os seus pés.

Habitualmente acabava o espectáculo com a canção «Jenny The Pirate», de Bertolt Brecht. Cantava sempre esta canção como se se tratasse de uma vingança sua, muito profunda, como se tivesse sido ela própria a autora do poema. A sua actuação era como um tiro, que alvejava, primeiro, a garganta de uma audiência branca. Depois, o coração. Finalmente, a cabeça. Nesses tempos, ela disparava a matar.

A canção do seu espectáculo que realmente me punha fora de mim era «Que bom era ter-te à minha espera». Sempre que a cantava, eu ficava assombrado, hipnotizado. Andava a recolher copos de Whiskey Sour quanto ela atacava aquele piano, que desabava sobre nós, retumbante, com a sua voz fantasmagórica, serpenteando através do amontoado das cordas. Os meus olhos subiam para o palco e por lá ficavam, enquanto as minhas mãos continuavam a trabalhar.

Uma vez, estava ela a cantar essa canção, derrubei uma vela. A cera quente espirrou para cima do fato de um homem de negócios, sujando-o todo. Fui chamado ao escritório do gerente. O homem lá estava, com os salpicos de cera quente espalhados pelas calças abaixo. Parecia que se tinha vindo para cima do fato. Nessa noite, fui despedido.
Lá fora, na rua, ainda podia ouvir a sua voz atravessando as paredes: «Seria o paraíso, ter-te à minha espera».

28/9/80
San Francisco, Ca.

Sam Shepard
(EUA, 1943)
Crónicas Americanas
(Tradução de José Vieira Lima, Difel)

Sr. Pitágoras José




Hoje Dia do Pai, coloco uma fotografia que me enviaram do meu filho.

quinta-feira, 18 de março de 2010

#02 Notas e Timbres_Thievery Corporation_Satyam Shivam Sundaram




Thievery Corporation, faz parte do meu Top 10 de bandas preferidas, editei este vídeo porque faz-me lembrar um pouco esta realidade, sendo o Egipto um país muito superior à Arábia Saudita na minha opinião.

quarta-feira, 17 de março de 2010

"O fato de marinheiro, não chega para se entender o mar"

Arnold atende mais um telefonema para o “take-away”.Dadivas recebe em festa um amigo regressado das Filipinas. Yasser beberica mais um chá Marroquino. Mahendra desfila com uma camisola canarinha. Zakir fala de deuses Indus. Zakaria vai buscar a mulher ao Libano. Ribeiras sonha com Moçambique e espera ansiosamente pelo Brazil. Ibrahim encomenda estimulantes sexuais a Pedro que está na Andaluzia. Rájá escuta mais um "hit pop" proveniente do Bangladesh. Mirza articula palavras calmas depois de regressar da sua India. Ernesto sorri ao comer mais uns ”vegetable noodles”. Samir tem um negócio de roupa no Iraque. Rafi não gosta de trabalhar às sextas-feiras. Teixeira mergulha no mar vermelho. Houssam é um egípcio orgulhoso. Ziad pronúncia poucas palavras em português, trazidas de Angola “Bom dia!! Como estás?”. Bajhat tem a fotografia da filha no “screensaver”. Imtiaz abre um negócio de transportes. Asdeem adora o mar de Marselha. Amaral aguarda ansiosamente pelo fim-de-semana para comer uma Shoarma. Zuckeb fica a uma hora da China e a 3 de Islamabad. Centeio junta dinheiro para voltar a Cabo-Verde. Jhun volta as Filipinas para baptizar as filhas. Sallasdeem fala de Agadir e ofrece a irmã, como objecto de amizade. Tavares desespera com os atrasos salariais. Gonz trás um bronze invejável. Moustafa voa para Istambul, para se deitar com um amor de outros tempos. Filipe quer vender vinho a copo numa tasca, faltando para isso um ano e já tem nome a “Tasca do Engenheiro”. Chand solta vocábulos em Urdo. Teejay diz de peito aberto “Boss i Love you”. Islam adora falar de futebol, em especial do Europeu. Javed é uma força da natureza. Leen quer voltar para o Dubai. Ammar, Yemita que só fala Árabe. Fazal orienta-se uma vez mais para Mecca. Argee é homosexual. Liaquat é um auto-didacta. Antoine, Grego que sorri ao ouvir o meu nome. Pedro cambia dinheiro, para enviar para o Senegal. Rommel adora comer “kabsa”. Norberto quer voltar a Coimbra, para a Queima das fitas. Gullam volta de férias, feliz por ter disparado um rocket nas montanhas Paquistanesas e ter conhecido uma rapariga em Mazar-i-Sharif (Afeganistão). Pedro tem problemas com o visto. Mário volta em definitivo para França. Wallid fala-me de Alexandria com saudade. Aminul sonha com Dakha. Nasir quer voltar ao Paquistão, está doente. Serge torce pelo Olympic de Marseilhe, frente ao Benfica. Imran, Arménio com cara de português. Hussain, limpa mais um quarto. Ahmed, nunca o ouvi falar, mas fala-me sempre. Imad espera que a crise se esfume para voltar a Espanha. Teodoro troca o pneu ao carro. Modesto fica observar um combate de boxe. Abu Khalil é pai de sete filhos e ama a Palestina, chora ao recordar-se de Jerusalém. Rhaam, limpa carros para que possa enviar o vencimento por inteiro para o Nepal. Brigido danca à sexta-feira ao som do telemóvel. Dangie tem sempre as mãos molhadas. Khan trafica influências. Aldrin, “desmaia” em mais um sono, feito às escondidas. Reggie quer a todo o custo mudar. Joey impõe as suas regras. Effren desmorona com o cansaço. Zeesham ensina palavras em Punjabi. Nadeem cai do primeiro andar. Élio prepara-se para voltar à casa das barras azuis………………..

terça-feira, 16 de março de 2010

Balzac

(Willy Ronis_Place Vendome)



“Balzac acreditava que os corpos eram formados por camadas de imagens e concluiu que toda vez que alguém era fotografado uma dessas camadas era transferida do corpo para a fotografia.”